domingo, 18 de julho de 2010

Eleições

Lá vem as eleições e já se levanta o circo do mau-gosto. Fico pensando nessa farsa da nossa democracia, não só a nossa, a democracia liberal há muito que se prostituiu com o grande capital.  Falando assim parece que eu sou um marxista revolucionário, esse também não é o caso. Mas me irritam esses discursos de liberdade democrática quando o que se observa mesmo é a vitória de quem tem mais.  Nas eleições principais então, todos os cargos majoritários tem apoio direto dos principais setores das oligarquias financeiras.  Não adianta querer mudanças estruturais, sempre as mesmas caras irão aparecer. Os representantes das milícias, dos bicheiros, dos banqueiros e todos os setores produtivos da sociedade permanecem alterando-se na dança das cadeiras.  O jogo democrático segue seu esquema de permanências das mesmas coisas. Não adianta. Ninguém vai me convencer do contrário.  Não acredito nessa democracia.  Também não acredito em ditaduras. Pra falar a verdade ando meio desacreditado com os gestores do poder. Sempre bati palmas pra nossas elites, elas são as melhores do mundo. Conseguem manter sob sua tutela milhares de despossuídos  dosando bem a dose amarga da força bruta. Tudo bem que as vezes transborda num Carandiru, ou num El-dorado dos Carajás, ou numa incursão do pacificador com cara de morte da PM carioca.  Fora essas pequenas gafes as elites permanecem no seu lugar e, para desespero da classe média, os pobres estão cada vez mais perto.  Enquanto isso nossa mídia achincalha aqueles idiotas que se colocam na vitrine pública da política, sabendo que o centro de decisões está sempre na esfera privada dos CEOs. Aliás, CEOs é uma palavra bonita, para além de seu significado feio, chief executive oficcer, a palavra me lembra o teto cravejado de estrelas que insiste em permanecer calado diante de nossas mazelas.  No meio dessas mazelas ficamos aqui sonhando em liberdade quando o que temos realmente é espaço vigiado e totalmente controlado por câmeras de segurança e pelo famigerado Google street view. Mas, silêncio vai começar o horário eleitoral e se você gosta de colecionar frustração ou falácias basta apertar o rec. 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Whatever Works



Woody Allen está otimista. Tudo bem que é um otimismo que não se entrega facilmente, e, como dizem aqueles que apreciam as coisas complexas – entre os quais eu por pura preguiça não me incluo, as melhores uvas estão nos galhos mais altos.  Seu último filme é um brinde a fé. Não a fé mesquinha dos fundamentalistas. Essa merece todas as porradas que sempre recebe dos intelectuais previsíveis.   Nem tão pouco essa fé é um sentimento de esperança cega e simplista em crenças de crescimento auto-sustentável ou atitudes politicamente corretas.  O clarinetista de horas vagas nos oferece um divertido passeio por adoráveis estereótipos humanos, cada um com a maravilhosa vocação para ser mais. 
Nova York é o cenário dessa comédia ácida e divertida e nela a vida vai pregar peças e facilitar o obvio e também o inusitado.  É justamente esse um dos grandes trunfos do filme: nada de formas prontas, apenas a vida acontecendo e nos levando de roldão com a generosa boa vontade do diretor. A deliciosa escolha de narrar a partir do personagem em primeira pessoa e em tempo real também é um petisco a parte que torna o filme ainda mais saboroso. Contudo, é preciso tomar cuidado pra não cair na armadilha Boris, personagem alter-ego do autor. É preciso não levar Boris a sério, ele mesmo não se leva a sério. Quem levaria a sério alguém que tem a certeza de estar num filme?  Toda a sua amargura e hipocondria e na verdade uma imagem invertida de alguém que, apesar de ser o arquétipo da negação da vida, prova que não importa o que aconteça tudo pode dar certo, será?