sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cambaio

Mais uma poesia musical às mulheres de verdade

Cambaio
Chico Buarque De Holanda

Eu quero moça que me deixe perdido
Procuro moça que me deixe pasmado
Essa moça zoando na minha idéia
Eu quero moça que me deixe zarolho
Procuro moça que me deixe cambaio
Me fervendo na veia

Desejo a moça prestes
A transformar-se em flor
A se tornar um luxo
Pro seu novo amor
Moça que vira bicho
Que é de fechar bordel
Que ateia fogo á s vestes
Na lua-de-mel

Eu quero moça que me deixe maluco
Moça disposta a me deixar no bagaço
Essa moça zanzando na minha raia
Eu quero moça que me chame na chincha
Com sua flecha que me crave um buraco
Na cabeça e não saia

Que não abaixe a fronte
Que vai por onde quer
Que segue pelo cheiro
Quero essa mulher
Que é de rasgar dinheiro
Marido detonar
Se arremessar da ponte
E me carregar

Vejo fulana a festejar na revista
Vejo beltrana a bordejar no pedaço
Divinais garotas
Belas donzelas no salão de beleza
Altas gazelas nos jardins do palácio
Eu sou mais as putas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ela

Eu adoro essa garota. Sempre adorei, desde do tempo em que me constrangia com seus carinhos loucos, seus inocentes beijos quentes, sua curiosidade voraz. Tanto naquele tempo quanto agora ela desconstruía meu mundo, me jogava num mar revolto de emoções tempestuosas. Seu olhar traduz a beleza, com o sorriso ilumina o céu, com sua voz, ah falar de sua voz é covardia. Quando canta nos seduz de corpo e alma dando a luz às mais belas canções. Ela é toda arte, técnica, emoção. Quando escreve escandaliza, sedenta de vida ela não se contenta com pouco. Se não for intenso não serve. Ela é vulcão, tempestade tropical, perigosa. Ela não é arvore plantada no mar, ela é vento, é etérea, essência delirante da beleza em si.
Sem ela a vida é calmaria sem sentido. Sem ela nada vale a pena. O poetinha já falou, mas eu repito, não há paz, não há beleza é só tristeza e melancolia que não sai de mim. Ela me ensinou a viver. Porque viver não planejar e seguir o plano, viver é uma constante de emoções e oportunidades. Viver é buscar o prazer em cada raio de sol, em cada passo, cena, cheiro, sabor, carícia. Viver é sentir. É dizer palavrão, ficar leve depois de uns goles, ser fiel aos amigos e ao coração. Viver é bom, é viajar curtindo a estrada, as nuvens, a tormenta e principalmente a companhia.
Ela me mostrou a estrada de tijolos amarelos e me conduz por ela com amor sem fim.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Minha relação com Deus é impublicável, mas qualquer dia eu publico.

domingo, 18 de outubro de 2009

Nada de novo no Front


Nem sei se escrevo ou não. Afinal, não há nada de novo no front. Opa, eu disse FRONT?  Infelizmente sim. Mais um triste episódio de nossa guerra. Dessa vez foi espetacular. O pobre diabo que puxou o gatilho do fuzil nem deve saber direito o que fez .  No meio da neurose alucinante de balas voando sobre a cabeça ele apontou pro pássaro metálico de asas circulares e mandou bala.  O pássaro também cuspia fogo. Mas,  ferido de morte, pegou fogo e foi pousar distante, heroicamente. Chegou perto do campo de pouso. O chão cada vez mais perto, trazendo a esperança pra quem ousou voar.  Barulho ensurdecedor, tiros, fogo, pedidos de socorro desesperados, tudo junto e misturado numa sinfonia sinistra. A esperança saltou do bicho antes do tempo.  Caiu fora e deixou dois nas mãos de sua inimiga. Explosão, fogo, carne queimando, sangue jorrando, gritos, dor, desespero.  Mortos de ambos os lados.  Inocentes viram bandidos póstumos, bandidos viram heróis.  Nada fora do normal. Cenas de uma guerra que escolhemos viver.
Nossas vozes incompetentes pedem paz. Mas, paz é só uma palavra. Sem justiça não há paz. Mandamos a dama cega passear pra longe.  Estudamos pra concurso sem pensar no trabalho e sim nos proventos.  Acostumamos com a guerra.  Tiros do e no helicóptero, assaltos nos sinais, salários ridículos, jantares caros pagos com cartão de crédito, suborno nas estradas, aulas mal dadas, serviços mal feitos, sinais avançados. Cenas de uma guerra sem fim. Nada me surpreende. Mesmo que a próxima sequência envolva outros espetáculos. Enquanto formos uma cidade partida estaremos em guerra civil.  O pior disso é uma guerra inútil, na qual não há vencedores, apenas medo, tristeza e desperdício.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Prelúdio





A solidão nos molda. Nós coloca em contato conosco e obriga a ver a patética figura humana desprovida de lentes mágicas. No mergulho em si mesmo encontramos toda a essencial inutilidade de um coração que insiste em bater por obrigação involuntária. Rasgado, bombeia vida por partes imensas de uma ilha sem pontes. Barcos passam ao longe, não enxergam a insignificante vida que insiste invisível naquele lugar arenoso. Ondas fustigam a areia e lá, colado no rochedo, uma pequena estrela do mar insiste em absorver o pouco alimento que recebe das lufadas salgadas do mar bravio. Assim ela sobrevive das migalhas, porque talvez não precise de mais que isso. Porque sabe que o mar, apesar de sombrio e turbulento, pode trazer uma surpresa. Ela insiste no seu pelejar diário pois sabe que, mesmo sob a dor que ninguém vê, há esperança. O sol, calor intenso, o mar, alimento escasso. Vida guerreira, sem valor.  Mesmo assim, teima em fazer a coisa certa. Se fosse pintura, tons pastéis. Escultura, modernista. Se fosse música, notas e acordes numa sonata concreta.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Apenas mais uma de amor

Falar de amor é fácil. Uma beleza sublime nos invade e convida a divagar. Não importa se amo com a cabeça, com o coração ou com o baixo ventre, todas as formas de amor são reais. Nem todas são boas, mas todas são definitivamente reais. É impossível viver sem amor, nada nesse mundo se move sem ele. Platão diz que ele é o motor da alma, pois Eros é uma força que segue em frente sem precisar de impulso inicial, em direção ao objeto de seu desejo. Tomás de Aquino o compara ao próprio Deus uma vez que ele é a própria causa inicial de todas as coisas, pelo menos o escolástico pensava assim. Assim é o amor, filosófico, místico, carnal, metódico. O amor rende poesias. Mesmo quando feio ele é belo. O amor move o mundo e sem esse ímpeto poderoso a vida não teria acontecido. Aliás, podemos até imaginar que o mundo que construímos é mau, mas essa maldade pode ser o reflexo do amor ao dinheiro, ao poder. Mesmo assim ainda é uma forma de amor. Um amor frio egoísta, mas amor.
A vida sem amor não existe. Tem gente que diz que sem amor a gente não vive, vegeta. Eu não aceito essa teoria, as plantas celebram a vida de uma maneira peculiar, tão especial que algumas não ligam pro tempo. Mesmo depois de séculos continuam levantando seus galhos e folhagens em busca do calor do astro rei. Ao mesmo tempo, em seu tronco forte e vigoroso, a vida encontra meios de multiplicar o amor.
O amor é paciente mas não passivo. Ele espera e suporta, mas age segue seu destino no mover do universo. É a própria essência do Bem, e no seu curso executa sua justiça. A verdade manifesta em seu coração a alegria pois Ele sabe que quem confia Nele não está sozinho. Acho que acabei pregando sem querer. Foi mal.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Mais um choque de ordem - 2016

E o Rio ganhou os jogos olímpicos. É a noticia da vez, será a noticia que vai ficar pelos próximos 7 anos. Mas porque eu não estou feliz. Talvez seja porque eu deveria estar fazendo minhas provas pra pós graduação. Talvez sejam meus problemas pessoais. Entretanto, o problema mais serio seja que não sofro de amnésia. Lembro do que acontece na cidade quando ocorre um grande evento pra gringo ver. As autoridades prometem investimentos concretos que não acontecem. Muita gente ganha dinheiro sem muito trabalho. Mas o pior é a sede sanguinária do Estado.
Sempre que há um grande evento internacional nossos comandantes botam o pau pra fora. No pior sentido. Eles querem mostrar que são machos e assim convocam todo o aparato mortífero disponível pra controlar aqueles que, não se sabe porque, insistem em respirar. A lembrança que tenho da Rio 92 é amarga. Saía de casa pra trabalhar e tinha que ter em mãos carteira de identidade, destino fixo e hora pra retornar. No último Pan o BOPE botou pra quebrar, foram várias investidas pra cima dos pobres deixando um rastro de medo e violência. Mas nossa classe média bate palmas.
As olim piadas serão um bom pretexto pra botar em prática uma política de segurança pública que afugente a pobreza das ruas e esconda as favelas, quem sabe até o tão sonhado muro saia. Mesmo assim ninguém quer saber. Todo mundo vai comemorar até cair hoje. Enquanto o clima de folia toma conta da cidade eu lembro do relato de minha tia viajandona de passagem em Salvador. Lá estava ela em pleno Pelourinho comprando badulaques e admirando a cidade quando ouviu do vendedor uma frase quase como se fosse um segredo: “Ta bonita a cidade né dona? Mas olha um pouco mais pra esquerda.” Ela olhou e entendeu que não dá pra esconder a miséria atrás de casas coloridas. Que venham as olim piadas tomara que eu esteja longe daqui.