segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Vida e a Montanha

As escolhas de nossa vida nos levam ao ponto onde estamos.  Se diante de mim há uma montanha e eu resolvo encarar, posso me machucar, talvez não volte. O cansaço e a dor estão no caminho prontos pra me acompanhar durante boa parte da jornada.  Cada passo confirma o anterior e reafirma a disposição de manter a decisão ou retroceder.  É claro que a volta traz a vergonha, a humilhação pessoal que ninguém assume.  O ser humano é assim mesmo.  As vezes se entrega, as vezes desiste, mas poucos continuam mantendo o leme na direção. É dessa massa de poucos que são feitos os heróis.  Os do dia-a-dia cheios de falhas e fraquezas, mas que diante das montanhas não voltam.  Ninguém pode ser culpado por voltar. Cada um sabe de suas capacidades e aqueles que ousam ir além, desprezando o preparo, desrespeitando a montanha correm o risco de serem engolidos por ela.
A montanha merece respeito. Seu topo coberto de neves eternas precisa ser reverenciado com humildade.  Mas a montanha premia seus valentes. Aqueles que se preparam, que perdem num dia pra voltar em outro, e outro, até que pelo cansaço, ou pela experiência cotidiana, transformam a montanha em rotina.  Um pouco a cada dia. Um metro a mais e assim, num dia esplendoroso de verão a montanha cede ao prazer do herói e oferece a glória de um entardecer em seu ponto mais alto.
As vezes não é montanha, nem canal, nem deserto, ou maratona. As vezes é a própria vida que se coloca como desafio. Como um sonho impossível, uma vocação não realizada, um amor aos pedaços.  A vida também exige seu respeito.  Não dá pra encarar sem cuidado, ela pode ser vingativa. Tem gente que não respeita e sem perceber cai na bebedeira, na luxuria e em todos os vícios. Acreditando que assim, numa suposta radicalização a vida vai mostrar-se e revelar seu topo. Entretanto, os cumes da vida, quando se mostram, aparecem em instantes fugidios. Num sunrising( que em seu sentido nascente é melhor que amanhecer), num sorriso de criança, num reencontro de uma saudade distante.  As vezes o topo é esplendoroso, um quebrar de recordes, um beijo apaixonado, um sim inesperado. Mas, na maioria das vezes o topo é olhar pro lado de manhã e ver ali o amor descansando com a expressão angelical que te faz acreditar que vale a pena continuar.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Que invento é a Poesia?


Que invento é a poesia?
Capaz de falar ao fundo d'alma
De explodir em tempestade
de traduzir calmaria

Que invento é a poesia?
Tão divina que ressoa
Das cordas de uma lira apolínea
Todo o encanto com magia

Que invento é a poesia?
É Dionísio em esplendor
É Diana a nos ferir
É a alma em agonia

Que invento é a poesia?
É arte de mentir
de representar, divertir
Sendo humano todo dia

Que invento é a poesia?
Transcendente a inspirar?
Imanente a maquinar?
Qual resposta eu daria?

Que invento é a poesia?
É magia calmaria
Agonia todo dia
Outra resposta eu poderia?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Condenado a Felicidade






Alfredo era um homem do alto de seus 45 anos, casado, pais de dois adolescentes estudiosos que galgavam os degraus da vida com determinação e responsabilidade, o sonho de qualquer pai. Amanda, sua mulher, ainda mantinha o viço de uma beleza jovial e sedutora. Vinte anos de casamento não tinham apagado a chama do desejo. Mesmo quando os calores do corpo levaram ambos a procurar novas experiências o sentimento mútuo de culpa misturado ao companheirismo, carinho e realizações em conjunto salvaram aquela união das desilusões da modernidade insaciável.
Aquela família ia como tantas outras fincando seu pé na vida e avançando passo a passo para o lugar nenhum que toda a classe média almeja chegar.  Depois dos turbulentos anos das incertezas da crise de meia idade o casal encontrava-se um no outro. Pelo menos era a imagem que todos possuíam daquela família feliz.
Entretanto, o homem é bicho ruim. Insatisfeito consigo. Inconformado diante de sua pequenez.  Alfredo tinha seus segredos. Eles os revia constantemente guardados no fundo de sua caixa de recordações. Entre elas havia um retrato em preto e branco de uma grande lona que escondia sonhos mágicos e aventuras emocionantes.  Alfredo recordava do dia da fotografia com melancolia. “Como teria sido minha vida? – pensava em seu recôndito mais íntimo, o pensamento era tão fraco que ele quase não discernia. Soava como uma música distante. Sim era uma melodia ao som de realejo que embalava animais amestrados, palhaços coloridos, acrobatas em colants de nylon.  Trinta anos atrás ele era um menino sonhador. Possuía nos olhos o brilho de quem é capaz de sonhar.  O senhor Mário logo percebeu o pequeno Fredinho encantado com a maravilha do circo.  Fredinho era um mar de possibilidades. Possuía uma elasticidade fora do comum. Na primeira noite fugiu para o circo e ficou lá até a manhã. Marco, um trapezista inconseqüente, ensinou o menino os truques das cordas suspensas, dos trapézios sem rede, dos saltos mortais. Tudo isso numa única noite. Que talento o Fredinho tinha para aquelas coisas.  Aquela noite ficou guardada na memória para o resto da vida, naquelas poucas horas Fredinho conheceu o paraíso.  Para marcar ainda mais o pobre menino surgiu um pequeno anjo de cabelos dourado e cacheados que escondia-se sob uma máscara de palhaço.  Marcinha era filha do dono do circo e seu pai lhe deixara brincar de palhaço já a algum tempo, mas agora do alto de seus 13 anos ela era uma pequena visão do céu para Fredinho. A menina ouvira o barulho de alguém nos trapézios as onze da noite, muito depois do espetáculo. A curiosidade lhe mostrou o pequeno aprendiz de Marco, um garoto de cabelos pretos e equilíbrio especial. Arrumou um lugar escondido e ficou assistindo silenciosamente aquela aula clandestina.  Fredinho realmente tinha talento e ela adorou as peripécias recém aprendidas do rapazola. Depois de algumas horas o instrutor mandou Fredinho pra casa lamentando que aquela apresentação era única e n manhã seguinte eles estariam novamente na estrada.  O menino lamentou, insistiu em ficar, em fugir com o circo, mas Marcos não era tão irresponsável, deu uma bronca no garoto e disse que a aula estava encerrada.  Fredinho entendeu e saiu cabisbaixo, com passos lentos em direção a casa.  Marcinha acompanhou-o de longe enquanto ele ia na direção da saída do circo.  Mas, não se sabe se por descuido ou por intenção, fez um barulho que chamou a atenção de Fredinho.  O menino assustou-se mas demonstrando coragem voltou a procurar quem espionava seu regresso.  A cena foi a mais maravilhosa de sua vida, uma linda menina em trajes de Pierro seguia de longe aquele trapezista frustrado.  Fredinho a princípio achou que ela estava caçoando dele, mas logo viu que a menina linda não era capaz de caçoar sem máscara. As lembranças agora começavam a esfumaçar em meio ao longo dos anos. Ele não lembra bem quais foram as palavras que disse ou ouviu, mas sabe que conversaram até de manhã, lembra também que roubaram a câmara do lambe-lambe e tiraram a fotografia que agora estava em sua mão.  Lembrou com amargura de seu pobre pai, preocupado com seu futuro, proibindo de seguir viagem com o circo. Lembrou que a vida continuou independente dos saltos que nunca mais deu, do beijo que não roubou de Marcinha, dos sonhos que não realizou.
Ponderou sua vida e constatou que através da sólida carreira que construiu como advogado, dos filhos responsáveis, da mulher que ainda o desejava independente da sua enorme barriga, estava miseravelmente condenado a felicidade.

domingo, 29 de novembro de 2009

Libertadores 2010, Hexa 2009!!!!

Juntos somos maiores. Valeu meu Mengão.



sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Razões

Não sei porque escrevo. O talento necessário me falta. Cada nova palavra soa medíocre. Na ânsia de revelar minha escuridão denuncio minha prepotência impondo aos incautos mais um amontoado de palavras vãs. Dentre eles há poetas, homens sem fé, mulheres inocentes, devassas literárias que não vivem o que escrevem, ou que escrevem para viver como um ensaio para a vida real. Eu mesmo praticamente não vivo. Simplesmente sigo num piloto automático ausente em minha própria existência. Junto palavras e chamo de poesia o que não passa de engano. Na verdade podem até me acusar de um crime, falsidade literária, ou ainda pior charlatanice. Prometendo textos que não são. Desprezando os famintos de alma loucos pra alimentarem-se com beleza e lirismo. Mesmo assim escrevo. Talvez para marcar uma presença. Fugir da minha invisibilidade. Gritar entre poetas, cronistas e tarados que também sou matéria. O vento é obrigado a cortar caminho quando me encontra, os cães latem quando passo. Só as lindas ninfas não me vêem. Mesmo assim meus olhos registram seus passos, suas curvas e anseiam por seus carinhos. É provável que me satisfaça com um sorriso, ou um olhar fugidio. Só pra ter certeza de que estou vivo, que não sou sombra, não sou espectro. Mesmo na minha mediocridade invisível exijo minha parte de luz. Queria mostrar como não aceito facilmente o que meus olhos contemplam. Desvendar a engrenagem por trás dos fatos. As razões das ações. Mania de quem estuda história. Sempre tentando revelar o que já é óbvio. Assim vou preenchendo linhas com impulsos eletrônicos, onde um dia as tintas reinaram soberanamente. Hoje com bits e bites imponho minha presença entre amantes de arte, solitários companheiros, esperançosos e sedutores. Esta intervenção marca meu lugar. Lugar que conquisto como uma falange romana, precisa e eficaz destruindo as fileiras alheias e forçando passagem. Assim escrevo a dor da alma, a alegria fugidia de instantes de prazer, a revolta de alguém que não ama o dinheiro, a necessidade especial de estar vivo num mundo frio. Meu teclado não harmoniza melodias, nem embala cantorias, ele simplesmente registra instantes de divagações na escrivaninha do recanto onde todas as letras vem descansar.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Chefe por um dia

Hoje fui chefe por um dia. Amanhã também estarei lá.  Assumirei o navio por dois dias, tenho pena da tripulação, já afiei o chicote - eheheheheheheheh.
Confesso que é estressante, mas tem lá suas pequenas ilusões.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

poetando e andando

Não é bela nem tão pouco agradável
Como peçonha contamina tudo que toca
Deixa rastro de dor e decepção
Caminho marcado com sulcos profundos
Ninguém admite que possui
Todos guardam sua essência na alma
Entre vitorias alheias e fracassos próprios
Atesta a incapacidade do dono
A vocação eterna a mediocridade perene
Pesado fardo
Redundância de um verso infeliz
Covardia desmedida
Pessimismo mesquinho
Palavras feias
Vomitorragia
Pestilência arrogante
Descarga a baixo
Caminho obscuro
Enxofre
Esgoto
Assim vai infeliz sentimento
Deixa a vida acontecer
Deixa brotar novas flores
Fluir do jasmim
Doçura do olhar
Esperança ao astro rei

sábado, 21 de novembro de 2009

Silêncio

O que é esse silêncio?
Será o grito de um coração sangrento?
Será a apatia de uma alma aprisionada?
Será a dor de amar de longe?

O que é esse silêncio?
Testamento de uma morte em vida?
Clemência de carrasco ante o moribundo?
O instante que separa a lâmina da carne?

O que é esse silêncio?
Será o som de minha angustia?
Sou eu em meu destino evanescente?
Diáfano entre o limbo do não ser?

O que é esse silêncio?
Seria ânsia de criar  o belo com palavras?
Será a sina de quem fala entre tintas?
Busca pelo léxico do signo mais perfeito?

O que é esse silêncio?
É poesia viva?
É calmaria em tempestade?
É esperança de tornar a ser?

mais uma da série poetadas de amor

Incapacidade

Se eu pudesse te tomaria em meus braços
Se eu pudesse te guardaria do mal
Se eu pudesse esconderia teus sonhos
Em embalagens douradas pra realizar um por um
Se eu pudesse navegaria em teu mar
Seu eu pudesse te levava pra passear
Se eu pudesse não deixaria o medo me afastar de seu calor
Se eu pudesse esqueceria o pudor
Se eu pudesse desafiaria a tempestade
Se eu pudesse jamais existiria a maldade
Se eu pudesse choveria prateado sobre tua pele de seda
Se eu pudesse exploraria teus segredos
Desvendaria teus locais secretos
Se eu pudesse te levaria a lua, te deixaria nua
Se eu pudesse contemplaria tuas formas
Se eu pudesse te mostraria o prazer
Se eu pudesse te ensinaria a viver

da série poetadas de amor

Estrada

Luz e calor explodindo em cores vivas
Amanhecer
Novas realidades
Tesouros escondidos
A mais bela flor do campo

Um coração de amarras soltas
Navegando no mar bravio da paixão
Observando o horizonte... (Só o futuro sabe)
Vagar pelas estradas
Capturar o brilho da manhã
Sentir a mais pura verdade
Aquilo que se vê com a alma

Medo que vai embora
Desejo purificado queimando e consumindo
Medo espreitando
Transbordante cascata de emoções
Água cristalina
Embriagante do prazer
Caminho tortuoso conduzindo a você

O formato do amor

Homenagem aos meus pais


Quando dois corações encontram-se de repente decidem que não querem mais se afastar é um milagre. Um fato extraordinário estabelecido nos céus como um contrato perpétuo, no qual algumas testemunhas comprovam que há algo especial, duradouro, fortalecido por ideais de esperança, fé e amor.  O que leva uma mulher tão espontânea e extrovertida a ficar com um homem tão exigente e de aparência sisuda? Talvez o cuidado, a proteção e carinho. Talvez o companheirismo e a cumplicidade que perpetuam essa união. Talvez a mão amiga dela nas horas de dificuldade. Quem sabe não é o conjunto de todas essas coisas orquestradas no céu.  Talvez ai esteja o segredo das mãos dadas, dos olhares enternecidos, do ciúme comedido. A chama do amor que aquece esta união abastecida com óleo celestial. Esse óleo vem de uma mão amiga muito especial que distribui sem restrições a todos os que acreditam na oportunidade de serem felizes. 
Os últimos trinta e cinco anos* comprovam esta realidade para eles.  Eu fui o primeiro rebento. Cheguei com choros e preocupações comuns a todas as crianças. Três anos depois veio aquele que seria meu melhor amigo até hoje.
Se os anos pudessem falar matariam nossa curiosidade sobre o primeiro olhar, primeiro beijo. Sobre o sim diante do celebrante.  Se os anos pudessem falar não contariam das dificuldades no quartinho humilde da favela.  Se os anos falassem eles atestariam que esses dois descobriram o significado da misteriosa promessa: “e serão ambos uma só carne.”
Uma só carne no prazer;
Uma só carne na dor;
Uma só carne na bonança;
Uma só carne na ausência;
Uma só carne no estar juntos;
Uma só carne na distancia;
Uma só carne na alegria;
Uma só carne no Senhor;
Os anos, eles são as testemunhas de duas vidas que desaprenderam o significado da palavra eu, longe um do outro.

*texto modificado da cerimônia de bodas de prata de meus pais há mais ou menos 10 anos.

Ad Marx

O texto abaixo deveria estar num outro espaço dedicado a reflexão histórica. Porém, minha amiga preguiça ainda não me permitiu criar tal espaço sendo assim seguem algumas poucas considerações sobre marxismo.




Os marxistas e os populares





Eu digo não ao marxismo. Mas, não é uma negativa categórica de um liberal rancoroso. Digo não a tentação de aderir a uma teoria totalizante. Os marxistas tendem a explicar tudo e qualquer coisa pela linha da eterna luta de classes. Algumas vezes travestida de combates entre a burguesia e aristocracia, outras entre servos e livres.  Mas, apesar de explicar uma boa parte da historia humana, fica devendo em várias outras perspectivas.
Entretanto, meu problema com o marxismo parte da prepotência de seus intelectuais em negar às classes populares sua pequena autonomia.  Sua capacidade de fazer escolhas, ainda que diante de poucas opções.  Para eles as escolhas dos populares são na verdade escolhas alheias aos seus interesses. Como se os pobres, os iletrados, os excluídos fossem apenas vítimas indefesas de um sistema opressor alienante.  Tudo bem que há realmente esse sistema, mesmo assim nem tudo é tão simples assim. 
Sempre que pode o povo faz suas escolhas mesmo que não haja outras opções.  Essas escolhas não são movidas por uma alienação generalizada.  Alias, essas escolhas ainda que inconscientes são, na maioria das vezes, o menor mau possível.  Entre morrer e ser escravizado, aquele não almeja a bela morte prefere viver. Entre um rico que fala difícil e um pai dos pobres, o povo escolhe quem ele entende. Quem reflete suas verdades, seu modo de agir, de pensar.  Lembro de um episodio da época do queremismo narrado numa aula de história do Brasil.  O professor contava que diante de uma platéia de pobres e despossuídos alguns liberais faziam um discurso inflamado anti-Getúlio Vargas.  Eles discursavam falando da pobreza de espírito do getulhistas, sujos mal vestidos, com pouca instrução. Os getulhistas ouviam calados esperando o momento de agir.  Ao final do discurso eles destruíram o palanque ao som de suas palavras de ordem queremos Getulio.  O que explica esse fascínio por um personagem tão dúbio? Nada nessa história é simples. Entretanto, observar que mudanças de caráter estrutural e simbólicos atingiram realmente as camadas mais pobres da população.  Igualmente hoje as viúvas do PT e a famigerada classe média não entendem o fenômeno Lula.  

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Zeus perde pra Eros

Roy Sullivan: Atingido por raios 7 vezes
O guarda florestal Roy Sullivan, entrou para o livro dos Recordes após ser atingido sete vezes por raios em seus 36 anos de carreira.
O primeiro ataque relâmpago, aconteceu em 1942. Sullivan foi atingido na perna e perdeu uma unha. Em 1977 aconteceu o seu último ataque, deixando-o com queimaduras no peito e estômago. Roy Sullivan morreu em 28 de setembro de 1983 com 71 anos de idade, a causa do óbito, suicídio devido a um amor não correspondido.

Cuidado com a fúria de Eros, é mais eficiente.

Desejo de você




Quero te  penetrar por inteiro
Invadir seu corpo com firmeza e decisão
Desfrutar todas entradas e saídas de seu corpo
Entrar pelos seus poros beber seu suor
Me ver em você,
Te ver por dentro
Entranhas, útero, fígado, coração
Mergulhar em tuas veias e artérias
Correr por canais vermelhos e quentes
Ouvir as palpitações da alma
Assistir teus sonhos e desvendar seus mistérios
Sorver  seu leite antes dele brotar dos seios
Gerar a vida em seu ventre
Esquecer quem sou se é que já fui alguém
Ser eternamente você

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ingenuidade irritante

Tem um tipo de ingenuidade que me irrita.  Aquele tipo que abre mão do raciocínio pra chorar  leite derramado. Aquela ingenuidade que teima em espantar-se diante do óbvio.  Um exemplo claro disso são as viúvas do PT. Como eu não gosto das viúvas do PT. Elas nem são viúvas de verdade, seu amante calhorda está vivo e fazendo a alegria de outras moças e moços menos pudicos.  Platão já dizia que a política não era coisa que prestasse. Mas o rei filósofo também sofria dessa ingenuidade. Tanto que desprezava o real, desconfiando de seus próprios olhos e buscava no etéreo uma solução perfeita.  A triste verdade é que tudo carrega em si a semente de sua própria corrupção.  O velho está escondido no novo, enquanto a doença espreita o corpo são. 
E o que isso tem a ver com o PT? Simples, as viúvas da legenda sonharam um país diferente. Queriam importar a Suécia junto com o socialismo tupiniquim. Conversa fiada. Não dá pra fazer outra Suécia, não dá pra fazer outro Brasil. Somos assim, estruturas arcaicas caiadas com viés tecnológico que sonham não mais com a volta do irmão do Henfil, mas com novidades de Miami.  Não queremos abrir mão de nosso sangue, nossa comodidade, nossas compras a prestação e nosso escândalo semanal que não escandaliza ninguém.
As viúvas falam da corja de políticos, mas não vão a reunião de condomínio, passam longe dos sindicatos, se isentam de educar. Elas não gostam de sujar as mãos com gente de verdade. Tudo o que elas queriam era pagar menos impostos e não precisar cumprimentar o vizinho no elevador.
Tenho raiva dessa viuvez idealizada, que não sabe bem o que defende. Fica num estado de sonolência embriagada esquecendo que os bêbados não possuem nada. Todo mundo fala mal da política, mas eu quero ver fazer política.  Quero ver não se viciar com o sabor dionisíaco do poder.  Os avanços são lentos desde de Platão, passando por Aristóteles, Tomás de Aquino e todos os demais.  Devagar os homens vão mudando suas historias, aproximando-se do poder e aos poucos vamos realizando o destino que desenhamos diariamente. Mas, pra isso é preciso sujar as mãos e limpar a lama que insiste em nos rodear.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cambaio

Mais uma poesia musical às mulheres de verdade

Cambaio
Chico Buarque De Holanda

Eu quero moça que me deixe perdido
Procuro moça que me deixe pasmado
Essa moça zoando na minha idéia
Eu quero moça que me deixe zarolho
Procuro moça que me deixe cambaio
Me fervendo na veia

Desejo a moça prestes
A transformar-se em flor
A se tornar um luxo
Pro seu novo amor
Moça que vira bicho
Que é de fechar bordel
Que ateia fogo á s vestes
Na lua-de-mel

Eu quero moça que me deixe maluco
Moça disposta a me deixar no bagaço
Essa moça zanzando na minha raia
Eu quero moça que me chame na chincha
Com sua flecha que me crave um buraco
Na cabeça e não saia

Que não abaixe a fronte
Que vai por onde quer
Que segue pelo cheiro
Quero essa mulher
Que é de rasgar dinheiro
Marido detonar
Se arremessar da ponte
E me carregar

Vejo fulana a festejar na revista
Vejo beltrana a bordejar no pedaço
Divinais garotas
Belas donzelas no salão de beleza
Altas gazelas nos jardins do palácio
Eu sou mais as putas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ela

Eu adoro essa garota. Sempre adorei, desde do tempo em que me constrangia com seus carinhos loucos, seus inocentes beijos quentes, sua curiosidade voraz. Tanto naquele tempo quanto agora ela desconstruía meu mundo, me jogava num mar revolto de emoções tempestuosas. Seu olhar traduz a beleza, com o sorriso ilumina o céu, com sua voz, ah falar de sua voz é covardia. Quando canta nos seduz de corpo e alma dando a luz às mais belas canções. Ela é toda arte, técnica, emoção. Quando escreve escandaliza, sedenta de vida ela não se contenta com pouco. Se não for intenso não serve. Ela é vulcão, tempestade tropical, perigosa. Ela não é arvore plantada no mar, ela é vento, é etérea, essência delirante da beleza em si.
Sem ela a vida é calmaria sem sentido. Sem ela nada vale a pena. O poetinha já falou, mas eu repito, não há paz, não há beleza é só tristeza e melancolia que não sai de mim. Ela me ensinou a viver. Porque viver não planejar e seguir o plano, viver é uma constante de emoções e oportunidades. Viver é buscar o prazer em cada raio de sol, em cada passo, cena, cheiro, sabor, carícia. Viver é sentir. É dizer palavrão, ficar leve depois de uns goles, ser fiel aos amigos e ao coração. Viver é bom, é viajar curtindo a estrada, as nuvens, a tormenta e principalmente a companhia.
Ela me mostrou a estrada de tijolos amarelos e me conduz por ela com amor sem fim.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Minha relação com Deus é impublicável, mas qualquer dia eu publico.

domingo, 18 de outubro de 2009

Nada de novo no Front


Nem sei se escrevo ou não. Afinal, não há nada de novo no front. Opa, eu disse FRONT?  Infelizmente sim. Mais um triste episódio de nossa guerra. Dessa vez foi espetacular. O pobre diabo que puxou o gatilho do fuzil nem deve saber direito o que fez .  No meio da neurose alucinante de balas voando sobre a cabeça ele apontou pro pássaro metálico de asas circulares e mandou bala.  O pássaro também cuspia fogo. Mas,  ferido de morte, pegou fogo e foi pousar distante, heroicamente. Chegou perto do campo de pouso. O chão cada vez mais perto, trazendo a esperança pra quem ousou voar.  Barulho ensurdecedor, tiros, fogo, pedidos de socorro desesperados, tudo junto e misturado numa sinfonia sinistra. A esperança saltou do bicho antes do tempo.  Caiu fora e deixou dois nas mãos de sua inimiga. Explosão, fogo, carne queimando, sangue jorrando, gritos, dor, desespero.  Mortos de ambos os lados.  Inocentes viram bandidos póstumos, bandidos viram heróis.  Nada fora do normal. Cenas de uma guerra que escolhemos viver.
Nossas vozes incompetentes pedem paz. Mas, paz é só uma palavra. Sem justiça não há paz. Mandamos a dama cega passear pra longe.  Estudamos pra concurso sem pensar no trabalho e sim nos proventos.  Acostumamos com a guerra.  Tiros do e no helicóptero, assaltos nos sinais, salários ridículos, jantares caros pagos com cartão de crédito, suborno nas estradas, aulas mal dadas, serviços mal feitos, sinais avançados. Cenas de uma guerra sem fim. Nada me surpreende. Mesmo que a próxima sequência envolva outros espetáculos. Enquanto formos uma cidade partida estaremos em guerra civil.  O pior disso é uma guerra inútil, na qual não há vencedores, apenas medo, tristeza e desperdício.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Prelúdio





A solidão nos molda. Nós coloca em contato conosco e obriga a ver a patética figura humana desprovida de lentes mágicas. No mergulho em si mesmo encontramos toda a essencial inutilidade de um coração que insiste em bater por obrigação involuntária. Rasgado, bombeia vida por partes imensas de uma ilha sem pontes. Barcos passam ao longe, não enxergam a insignificante vida que insiste invisível naquele lugar arenoso. Ondas fustigam a areia e lá, colado no rochedo, uma pequena estrela do mar insiste em absorver o pouco alimento que recebe das lufadas salgadas do mar bravio. Assim ela sobrevive das migalhas, porque talvez não precise de mais que isso. Porque sabe que o mar, apesar de sombrio e turbulento, pode trazer uma surpresa. Ela insiste no seu pelejar diário pois sabe que, mesmo sob a dor que ninguém vê, há esperança. O sol, calor intenso, o mar, alimento escasso. Vida guerreira, sem valor.  Mesmo assim, teima em fazer a coisa certa. Se fosse pintura, tons pastéis. Escultura, modernista. Se fosse música, notas e acordes numa sonata concreta.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Apenas mais uma de amor

Falar de amor é fácil. Uma beleza sublime nos invade e convida a divagar. Não importa se amo com a cabeça, com o coração ou com o baixo ventre, todas as formas de amor são reais. Nem todas são boas, mas todas são definitivamente reais. É impossível viver sem amor, nada nesse mundo se move sem ele. Platão diz que ele é o motor da alma, pois Eros é uma força que segue em frente sem precisar de impulso inicial, em direção ao objeto de seu desejo. Tomás de Aquino o compara ao próprio Deus uma vez que ele é a própria causa inicial de todas as coisas, pelo menos o escolástico pensava assim. Assim é o amor, filosófico, místico, carnal, metódico. O amor rende poesias. Mesmo quando feio ele é belo. O amor move o mundo e sem esse ímpeto poderoso a vida não teria acontecido. Aliás, podemos até imaginar que o mundo que construímos é mau, mas essa maldade pode ser o reflexo do amor ao dinheiro, ao poder. Mesmo assim ainda é uma forma de amor. Um amor frio egoísta, mas amor.
A vida sem amor não existe. Tem gente que diz que sem amor a gente não vive, vegeta. Eu não aceito essa teoria, as plantas celebram a vida de uma maneira peculiar, tão especial que algumas não ligam pro tempo. Mesmo depois de séculos continuam levantando seus galhos e folhagens em busca do calor do astro rei. Ao mesmo tempo, em seu tronco forte e vigoroso, a vida encontra meios de multiplicar o amor.
O amor é paciente mas não passivo. Ele espera e suporta, mas age segue seu destino no mover do universo. É a própria essência do Bem, e no seu curso executa sua justiça. A verdade manifesta em seu coração a alegria pois Ele sabe que quem confia Nele não está sozinho. Acho que acabei pregando sem querer. Foi mal.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Mais um choque de ordem - 2016

E o Rio ganhou os jogos olímpicos. É a noticia da vez, será a noticia que vai ficar pelos próximos 7 anos. Mas porque eu não estou feliz. Talvez seja porque eu deveria estar fazendo minhas provas pra pós graduação. Talvez sejam meus problemas pessoais. Entretanto, o problema mais serio seja que não sofro de amnésia. Lembro do que acontece na cidade quando ocorre um grande evento pra gringo ver. As autoridades prometem investimentos concretos que não acontecem. Muita gente ganha dinheiro sem muito trabalho. Mas o pior é a sede sanguinária do Estado.
Sempre que há um grande evento internacional nossos comandantes botam o pau pra fora. No pior sentido. Eles querem mostrar que são machos e assim convocam todo o aparato mortífero disponível pra controlar aqueles que, não se sabe porque, insistem em respirar. A lembrança que tenho da Rio 92 é amarga. Saía de casa pra trabalhar e tinha que ter em mãos carteira de identidade, destino fixo e hora pra retornar. No último Pan o BOPE botou pra quebrar, foram várias investidas pra cima dos pobres deixando um rastro de medo e violência. Mas nossa classe média bate palmas.
As olim piadas serão um bom pretexto pra botar em prática uma política de segurança pública que afugente a pobreza das ruas e esconda as favelas, quem sabe até o tão sonhado muro saia. Mesmo assim ninguém quer saber. Todo mundo vai comemorar até cair hoje. Enquanto o clima de folia toma conta da cidade eu lembro do relato de minha tia viajandona de passagem em Salvador. Lá estava ela em pleno Pelourinho comprando badulaques e admirando a cidade quando ouviu do vendedor uma frase quase como se fosse um segredo: “Ta bonita a cidade né dona? Mas olha um pouco mais pra esquerda.” Ela olhou e entendeu que não dá pra esconder a miséria atrás de casas coloridas. Que venham as olim piadas tomara que eu esteja longe daqui.

domingo, 27 de setembro de 2009

O irmão do pródigo

O filho pródigo é conhecido a exaustão, os cristão adoram ele pois sabem que, se um dia derem na telha e resolverem seguir seus próprios instintos, podem contar que, mesmo numa pocilga, há um Pai amoroso lhe aguardando com um banquete e um anel. Mas para tudo. Um banquete e um anel pra esse desgraçado sem vergonha que gasta o que não é dele com prostitutas, bebida e jogatina? Qual o privilégio dele? Ele devia ser punido. Esses foram o pensamento de seu irmão. Pensamentos justos. Afinal, ele também queria curtir a vida, também queria sentir o prazer de belas mulheres, de bons vinhos, de banquetes deliciosos. Mas, ele foi fiel. Pelo menos era assim que pensava. Talvez fosse feliz, talvez gostasse de servir o Pai, mas seu desejo também queria viver. No fundo esse desejo corroia sua alma e ele, por medo ou respeito – se é que essas palavras não são sinônimos, coisa que eu acho provável – permaneceu ao lado do Pai.
Tudo ia bem até que o desgraçado do irmão mais novo resolve voltar. Bem feito, pensou ele, se fudeu, passou fome, está fétido, feio e sujo. No fundo ele também lamentou, ainda era seu irmão, mas, foi uma escolha, tornou a pensar. Meu Pai deve recebê-lo de volta, Ele o ama, mas que a justiça seja feita infelizmente meu irmão não tem mais direito de filho, ele quis assim. Esses pensamentos ainda estavam na cabeça do irmão do pródigo quando veio a noticia do banquete. Um novilho cevado? Um novilho não, O novilho cerrado. Justo aquele mais apetitoso, que tanto namorei, que estava esperando que meu Pai me desse. Está certo que nunca pedi, mas estava implícito. Agora o velho vai matar o bicho por causa desse cara. Não vou na festa, foda-se.
Que ódio, como assim o cara gasta tudo o nem era dele e o velho recebe com festa. Entretido nesses pensamentos sombrios não percebeu que alguém tinha deixado a festa, os convidados e o filho que tinha retornado para buscar seu outro filho. Ambos irmãos tinham um Pai, mas só por um esse Pai se moveu, foi por um que o Pai parou o que estava fazendo de importante pra trazê-lo a festa. A mão firme e tranqüilizante do Pai pousou sobre seu ombro e então, tomado por rancor e ódio, o mais velho desabafou: _ você ainda gasta tempo e dinheiro com esse beberrão, mulherengo e safado. Eu te servi em tudo, fiz tudo que era pra fazer e você não me deu nada.
O Pai sorriu amorosamente e pronunciou palavras belas: _ Filho corri pra seu irmão pois já o dava como morto. Minha dor era tanta que não sabia o que fazer. Quando ele chegou eu interrompi a tristeza e fui a ele. Mas você tem todas as coisas, você me tem. Tudo o que é meu é seu. Não fui resgatar seu irmão foi a escolha dele e ele teve vir com suas próprias pernas, mas interrompi minha alegria e vim te resgatar por que sem você minha alegria não é completa.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Renato e eu

Tem certas coisas que a gente não vai entender nunca. Por mais que a gente use a razão não adianta. O mistério da vida se coloca diante de você e te confronta com experiências estranhas. Uma dessas coisas esquisitas é o talento do meu compositor favorito em dizer exatamente o que se passa lá no fundo do meu coração. Não sei como ele consegue fazer isso. Nunca me viu, não somos do mesmo time, ele é gay e eu realmente prefiro mulheres, olha que disse isso no plural. Mas mesmo assim Renato Russo traduz os sentimentos de minha geração coca-cola. Mas acho que isso é uma onda energética que leva sentimentos pelos condutores apurados das super cordas que sustentam o universo. Sei lá. Nesse caso hoje mais do nunca estou assim Metal contra as nuvens, numa disposição pra melancolia esperançosa. Mas mesmo tendo os sentidos dormentes, assim mesmo devo resistir ninguém vai tomar meu castelo. Não me entrego eu quero a espada em minhas mãos. Para sorrir quando o inimigo bater em retirada catando seus cacos. Afinal tudo passa, tudo passará.

pra quem quiser a letra da musica ai vai ela:

Metal Contra as Nuvens
Legião Urbana
Composição: Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá

I

Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais.

Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.

Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.

Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra tem a lua, tem estrelas
E sempre terá.

II

Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa.

Quase acreditei, quase acreditei

E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.

Olha o sopro do dragão...

III

É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez, o que destrói

Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende.

Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos.

Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.

Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então.

IV

- Tudo passa, tudo passará...

E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.

E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.

domingo, 6 de setembro de 2009

Poesia Veríssima

Tu e Eu
Luis Fernando Veríssimo


Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albinônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.

És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.

És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.

Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Crônica especial

Tombando aqui , tropeçando ali, mancando um pouquinho sigo caminhando. Entrando onde a porta estiver aberta e o cheiro for bom. Vou pra onde o nariz aponta, sou movido pela alma. Vou até onde me deixarem. Se ninguém me expulsar eu to dentro e vou ficando enquanto quiser e puder. Porque o bom da vida é não esquentar, só seguir aproveitando o melhor.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crônica especial


CRÔNICA ESPECIAL



Eu não posso reclamar. Sobrevivi a um acidente que atingiu a minha medula nervosa e deixou algumas seqüelas, leves e pequenas. É verdade que não posso correr, também é verdade que a dor agora não me larga nunca. Mas sobrevivi. Minha cabeça dura estilhaçou o para-brisa de um Kadet, mesmo assim posso dizer que escapei. Escapei bem. Sou independente, não preciso de ajuda pro banho, controlo minhas vontades de ir ao banheiro, vou a qualquer lugar e não sofro muito com a intolerância de uma cidade que nega sistematicamente o direito a acessibilidade a todos, cadeirantes ou não. Aqui ninguém é especial. Além disso tudo não preciso de nenhum assessório pra facilitar a locomoção, mas já usei bengala e fiquei muito elegante.

Eu não posso reclamar. Por todas essas coisas eu não tenho o direito de reclamar. Tenho que agradecer a Deus e a vida, por tudo. Por ter escapado dessa praticamente ileso, estar em pé, vivo, ter uma vida praticamente normal. Mas, o que é uma vida praticamente normal? Uma vida praticamente normal significa saber que as limitações aumentaram. Limitações que já são naturalmente impostas ao ser humano, dito normal. Então quando esses limites aumentam você sente na pele o quão pequeno você é e como é dura a arte de estar vivo. Então, apesar de não ter o direito de reclamar, SIM, M.RDA, EU QUERO RECLAMAR.

terça-feira, 1 de setembro de 2009



Ser maior pra ser igual





Negro quando não faz na entrada faz na saída
Quando faz faz bonito pra todo mundo ver
Negro não pode fazer diferente
Se fizer errado apanha dobrado
Sente na pele, na carne, na alma
A dor de não ser
Dor de não fazer
Tem que ser superior
Se assim não for ninguém nota
Passa sem ser visto como coisa sem valor
Negro diz no pé
Pé que chora disfarçando a tristeza numa levada moleque

Pé que ontem não calçava beijava o frio chão
Como frio é o coração de quem não vê
Que negro pra ser igual só pode ser se for maior



sábado, 15 de agosto de 2009

Internetando


É tanta coisa que atiça o interesse que as vezes o vazio pode estar repleto numa imensidão de assuntos. É basicamente isso que me dá uma grande preocupação.
História, política, amor, Deus, vida, casamento, música. Várias possibilidades de temas, cada um com seu universo específico.
Como não falar de amor se esse sentimento dá sentido à vida. Como não falar de casamento se agora não sou mais apenas um. Como não falar de música se o som da vida embala cada instante. Como não falar de Deus se Ele é a origem de tudo e o motivo da existência. Como não falar de História se o passado do homem e suas opções explicam nosso presente. Como não falar de política se o poder de decisão pode ser nosso, ou não. Como não falar .

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A távola redonda é um símbolo de igualdade, de destruição de hierarquias num mundo marcado pelo estamento social.
A távola é fruto utópico. Talvez nunca tenha existido. Mas, sua existência imaginária permite a manutenção de um sonho. Um sonho de igualdade onde pelo menos os cavaleiros não teriam que prestar vassalagem. É verdade que a Idade Média foi um período relativamente tenebroso, marcado por uma série de preconceitos. Um mundo que feneceu aos pés da modernidade, mas gerou filhos que ainda podem ser vistos em nossas cidades.

Ladrão Virtual

É difícil começar um texto defendendo o crime. Bem pelo menos é assim que a mídia chama o ato de baixar musicas pela web. Na verdade eu não estou bem certo disso. O Silvio Santos me mandaria escolher as cartas, universitários ou uma outra opção que no momento não lembro. Mas, o problema do mundo virtual é que hoje você tem que ter opinião formada sobre tudo. Não dá para simplesmente curtir o prazer do momento, dizer que gosta ou não gosta. A gente tem que ter opinião formada, principalmente depois de concluir uma faculdade de comunicação social e estar no fim de um curso de historia.

Então, se não dá pra apenas curtir um som pelo qual não paguei, vamos tentar desenvolver um argumento que justifique minhas ações. Em primeiro lugar vou apelar pro hedonismo e pro senso de prazer imediato que todo mundo está procurando. A web nos oferece isso. Eu quero uma receita e está lá, no site do cheff fulano de tal. Está tudo online. Tem até sites que tocam as musicas que você quer ouvir. Particularmente eu acho isso ótimo. Só assim eu sei de antemão as musicas que quero baixar. Então pelo prazer imediato que a web oferece - isso quando o e-mule deixa - 1 x 0 pros downloads.

Entretanto o melhor argumento talvez seja a idéia que está por trás dos downloads. A idéia é fenomenal, simplesmente ninguém rouba nada de ninguém, pois os arquivos são compartilhados. Isso é uma porrada feia na industria do entretenimento. Bem feito, eles transformaram arte em coisa. Sendo assim uma coisa pode ser dividida com todos. Falar o que vou dizer agora é entregar a idade, mas eu sou do tempo do vinil e da fita cassete. Naquele tempo ninguém ia pros jornais pra reclamar da pirataria quando alguém gravava, em seu estéreo 3 em 1, um cassete do saudoso bolachão. É neste ponto que a hipocrisia do capital vem a tona. A industria nunca foi ameaçada com esta prática. Naqueles tempos ela ia de milhão em milhão enchendo os bolsos e iludindo artistas. Bons tempos aqueles, devem pensar os executivos das gravadoras hoje em dia. Mas agora a tecnologia nos libertou. Qualquer pessoa com um computador com acesso a internet pode gravar discos inteiros sem precisar ir a loja ou pagar por isso. O problema é que os lucros vem diminuindo, pois todos aprenderam a gravar musicas em casa. Tem gente que faz até CD personalizado, com apenas as musicas que quer ouvir. O melhor disso tudo é que não há roubo. Apesar do discurso hipócrita das gravadoras e da imprensa, quem faz downloads está na verdade compartilhando arquivos. Eu compro um CD e partilho as musicas do meu disco com quem eu quiser. E assim a web revoluciona o modo de distribuir musica.

Tem artista que já aprendeu. Os caras já estão indo direto ao público, atingindo pessoas interessadas no seu som. Eu por exemplo, nem teria conhecimento de um monte de gente bacana sem a web. Agora eu faço questão de ir a um bom show, mas pra gente conhecer os artistas nada melhor que a degustação virtual.

Martelo Bigorna

Lenine Composição: Lenine

Muito do que eu faço
Não penso, me lanço sem compromisso.
Vou no meu compasso
Danço, não canso a ninguém cobiço.
Tudo o que eu te peço
É por tudo que fiz e sei que mereço
Posso, e te confesso.
Você não sabe da missa um terço

Tanto choro e pranto
A vida dando na cara
Não ofereço a face nem sorriso amarelo
Dentro do meu peito uma vontade bigorna
Um desejo martelo

Tanto desencanto
A vida não te perdoa
Tendo tudo contra e nada me transtorna
Dentro do meu peito um desejo martelo
Uma vontade bigorna

Vou certo
De estar no caminho
Desperto.