sábado, 21 de novembro de 2009

O formato do amor

Homenagem aos meus pais


Quando dois corações encontram-se de repente decidem que não querem mais se afastar é um milagre. Um fato extraordinário estabelecido nos céus como um contrato perpétuo, no qual algumas testemunhas comprovam que há algo especial, duradouro, fortalecido por ideais de esperança, fé e amor.  O que leva uma mulher tão espontânea e extrovertida a ficar com um homem tão exigente e de aparência sisuda? Talvez o cuidado, a proteção e carinho. Talvez o companheirismo e a cumplicidade que perpetuam essa união. Talvez a mão amiga dela nas horas de dificuldade. Quem sabe não é o conjunto de todas essas coisas orquestradas no céu.  Talvez ai esteja o segredo das mãos dadas, dos olhares enternecidos, do ciúme comedido. A chama do amor que aquece esta união abastecida com óleo celestial. Esse óleo vem de uma mão amiga muito especial que distribui sem restrições a todos os que acreditam na oportunidade de serem felizes. 
Os últimos trinta e cinco anos* comprovam esta realidade para eles.  Eu fui o primeiro rebento. Cheguei com choros e preocupações comuns a todas as crianças. Três anos depois veio aquele que seria meu melhor amigo até hoje.
Se os anos pudessem falar matariam nossa curiosidade sobre o primeiro olhar, primeiro beijo. Sobre o sim diante do celebrante.  Se os anos pudessem falar não contariam das dificuldades no quartinho humilde da favela.  Se os anos falassem eles atestariam que esses dois descobriram o significado da misteriosa promessa: “e serão ambos uma só carne.”
Uma só carne no prazer;
Uma só carne na dor;
Uma só carne na bonança;
Uma só carne na ausência;
Uma só carne no estar juntos;
Uma só carne na distancia;
Uma só carne na alegria;
Uma só carne no Senhor;
Os anos, eles são as testemunhas de duas vidas que desaprenderam o significado da palavra eu, longe um do outro.

*texto modificado da cerimônia de bodas de prata de meus pais há mais ou menos 10 anos.

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