sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Razões

Não sei porque escrevo. O talento necessário me falta. Cada nova palavra soa medíocre. Na ânsia de revelar minha escuridão denuncio minha prepotência impondo aos incautos mais um amontoado de palavras vãs. Dentre eles há poetas, homens sem fé, mulheres inocentes, devassas literárias que não vivem o que escrevem, ou que escrevem para viver como um ensaio para a vida real. Eu mesmo praticamente não vivo. Simplesmente sigo num piloto automático ausente em minha própria existência. Junto palavras e chamo de poesia o que não passa de engano. Na verdade podem até me acusar de um crime, falsidade literária, ou ainda pior charlatanice. Prometendo textos que não são. Desprezando os famintos de alma loucos pra alimentarem-se com beleza e lirismo. Mesmo assim escrevo. Talvez para marcar uma presença. Fugir da minha invisibilidade. Gritar entre poetas, cronistas e tarados que também sou matéria. O vento é obrigado a cortar caminho quando me encontra, os cães latem quando passo. Só as lindas ninfas não me vêem. Mesmo assim meus olhos registram seus passos, suas curvas e anseiam por seus carinhos. É provável que me satisfaça com um sorriso, ou um olhar fugidio. Só pra ter certeza de que estou vivo, que não sou sombra, não sou espectro. Mesmo na minha mediocridade invisível exijo minha parte de luz. Queria mostrar como não aceito facilmente o que meus olhos contemplam. Desvendar a engrenagem por trás dos fatos. As razões das ações. Mania de quem estuda história. Sempre tentando revelar o que já é óbvio. Assim vou preenchendo linhas com impulsos eletrônicos, onde um dia as tintas reinaram soberanamente. Hoje com bits e bites imponho minha presença entre amantes de arte, solitários companheiros, esperançosos e sedutores. Esta intervenção marca meu lugar. Lugar que conquisto como uma falange romana, precisa e eficaz destruindo as fileiras alheias e forçando passagem. Assim escrevo a dor da alma, a alegria fugidia de instantes de prazer, a revolta de alguém que não ama o dinheiro, a necessidade especial de estar vivo num mundo frio. Meu teclado não harmoniza melodias, nem embala cantorias, ele simplesmente registra instantes de divagações na escrivaninha do recanto onde todas as letras vem descansar.

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