quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Essências reclusas

A velha necessidade de se mostrar cresce cada dia. Eu mesmo sou um exibido nato. Há em mim uma vontade absurda de impor fortemente minha presença. Acho que isto tem a ver com uma certa falta de confiança em si mesmo. Gente assim enche páginas de blogs, que quase ninguém lê, numa tentativa desesperada de marcar seu lugar ao sol. Isto é tão forte que implica até em atos inconsequentes e com um certo grau de desleixo. Como por exemplo, não revisar um texto antes de publicá-lo. É provavelmente o que acontecerá com este aqui.

Na contra mão desse movimento egocentrado há aquelas pessoas diferentes. Aquelas que não fazem questão de gritar aos quatro ventos suas impressões. Eu admiro pessoas assim. Elas não obrigam ninguém a notá-las. Elas ficam ali no seu canto, vivendo sua vida e produzindo muita beleza. Entre essas pessoas estão duas amigas minhas. Até parece o texto de um cronista que escreve no Globo cujo o nome eu esqueci. Mas voltando as minhas amigas vou lançar um pouco de luz sobre os refúgios aconchegantes de onde elas contemplam a vida e discretamente marcam suas presenças sem escândalos.

Uma delas escreve memórias de sua própria história. Não para buscar o estrelato ou ficar rica. Minha amiga até pensa em publicar suas reminiscências mas apenas no estreito circulo de sua intimidade. Sua grande aliada é a tecnologia que permite a edição de poucas cópias dessas memórias que devem ser deliciosas e inspiradoras. Só pra dar inveja a quem não a conhece: a menina nasceu numa família muito pobre do nordeste, numa família de muitos irmãos e foi criada apenas pela mãe. Hoje do seu apartamento classe média na Zona Sul do Rio de Janeiro ela comemora a vida, enquanto cuida do seu gato temperamental. Com um pouco de sorte eu terei acesso a essas histórias maravilhosas. Bom pelo menos eu espero.

A outra amiga discreta que também faz parte desse time de reclusos adora escrever. Depois de muito jogo de cintura eu finalmente consegui convencê-la a me mostrar seu texto. Foi uma experiência ótima. Seu estilo é pulsante, mágico, com uma sensualidade inebriante e bastante provocativa. Ninguém lê aqueles textos e fica impune. Nestes tempos de redes sociais e diários virtuais onde pessoas talentosas ou não disputam espaços digitais minha amiga é exceção. Seu texto é secreto, guardado em grande parte nas páginas manuscritas de seu caderno. Não há nenhuma linha virtual sobre sua saga de amor e ódio. Não sei se é por falta de confiança em si ou nos outros. Prefiro acreditar que ela não tem pressa em se fazer notar. Ela sabe que sua história tem um momento certo pra sari do forno. Se por um acaso seu bolo sair do forno antes do tempo corre o risco de desandar. Admiro essa paciência.

Essas duas mulheres trazem em si a essência e paciência de quem sabe valorizar cada semana de uma gestação.



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