quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crônica especial


CRÔNICA ESPECIAL



Eu não posso reclamar. Sobrevivi a um acidente que atingiu a minha medula nervosa e deixou algumas seqüelas, leves e pequenas. É verdade que não posso correr, também é verdade que a dor agora não me larga nunca. Mas sobrevivi. Minha cabeça dura estilhaçou o para-brisa de um Kadet, mesmo assim posso dizer que escapei. Escapei bem. Sou independente, não preciso de ajuda pro banho, controlo minhas vontades de ir ao banheiro, vou a qualquer lugar e não sofro muito com a intolerância de uma cidade que nega sistematicamente o direito a acessibilidade a todos, cadeirantes ou não. Aqui ninguém é especial. Além disso tudo não preciso de nenhum assessório pra facilitar a locomoção, mas já usei bengala e fiquei muito elegante.

Eu não posso reclamar. Por todas essas coisas eu não tenho o direito de reclamar. Tenho que agradecer a Deus e a vida, por tudo. Por ter escapado dessa praticamente ileso, estar em pé, vivo, ter uma vida praticamente normal. Mas, o que é uma vida praticamente normal? Uma vida praticamente normal significa saber que as limitações aumentaram. Limitações que já são naturalmente impostas ao ser humano, dito normal. Então quando esses limites aumentam você sente na pele o quão pequeno você é e como é dura a arte de estar vivo. Então, apesar de não ter o direito de reclamar, SIM, M.RDA, EU QUERO RECLAMAR.

2 comentários:

  1. Eita, amargura!!! :P:P:P:P
    Querido, tendo a MIM como amiga, você não tem o direito de reclamar de NADA... :P
    hhheheheh
    Brincadeiras à parte, você é um herói num mundo de anti-heróis, Lipe! Isso dá trabalho...
    Beijos!!

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