domingo, 18 de outubro de 2009

Nada de novo no Front


Nem sei se escrevo ou não. Afinal, não há nada de novo no front. Opa, eu disse FRONT?  Infelizmente sim. Mais um triste episódio de nossa guerra. Dessa vez foi espetacular. O pobre diabo que puxou o gatilho do fuzil nem deve saber direito o que fez .  No meio da neurose alucinante de balas voando sobre a cabeça ele apontou pro pássaro metálico de asas circulares e mandou bala.  O pássaro também cuspia fogo. Mas,  ferido de morte, pegou fogo e foi pousar distante, heroicamente. Chegou perto do campo de pouso. O chão cada vez mais perto, trazendo a esperança pra quem ousou voar.  Barulho ensurdecedor, tiros, fogo, pedidos de socorro desesperados, tudo junto e misturado numa sinfonia sinistra. A esperança saltou do bicho antes do tempo.  Caiu fora e deixou dois nas mãos de sua inimiga. Explosão, fogo, carne queimando, sangue jorrando, gritos, dor, desespero.  Mortos de ambos os lados.  Inocentes viram bandidos póstumos, bandidos viram heróis.  Nada fora do normal. Cenas de uma guerra que escolhemos viver.
Nossas vozes incompetentes pedem paz. Mas, paz é só uma palavra. Sem justiça não há paz. Mandamos a dama cega passear pra longe.  Estudamos pra concurso sem pensar no trabalho e sim nos proventos.  Acostumamos com a guerra.  Tiros do e no helicóptero, assaltos nos sinais, salários ridículos, jantares caros pagos com cartão de crédito, suborno nas estradas, aulas mal dadas, serviços mal feitos, sinais avançados. Cenas de uma guerra sem fim. Nada me surpreende. Mesmo que a próxima sequência envolva outros espetáculos. Enquanto formos uma cidade partida estaremos em guerra civil.  O pior disso é uma guerra inútil, na qual não há vencedores, apenas medo, tristeza e desperdício.


2 comentários:

  1. Vivemos um épico de mau gosto, Lipe... Quer dizer, a sua narrativa poética é pulsante e atraente, como Baudelaire "cantando" sobre esgotos e submundos. Pelo menos engrandece as comezinhas de nossas vidas. Saudades desse espírito heróico e grandiloqüente, amigo! rs! Como vai ele?

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  2. Passeando por ai, com medo de bala perdida

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